Imagem tirada daqui
"Após o ribombar das trombetas
celestes, o chão irá fender-se derramando sobre a terra legiões de animais
famintos e sarnosos que irão invadir os restaurantes, condenando à fome e à
intromissão de pêlos, em partes insuspeitas e recônditas do corpo, todos os
seres humanos aí presentes."
É desta forma que é encarada nas redes sociais,
esse lugar de indignações instantâneas e seguidistas, quiçá com algum exagero
da minha parte, a perspectiva da entrada em vigor da lei que irá permitir a
entrada de animais de companhia em estabelecimentos de restauração
A
receita é sempre a mesma: a aquisição de informação fica-se pela leitura do
título de uma notícia, na maior parte das vezes já inquinada por uma certa dose
sensacionalismo e falta de rigor, com vista a obter "cliques", e de
pronto se faz a sua partilha, juntando-lhe uma série de palavras "robustas", plenas
de indignação.
Nas redes sociais, parece que as pessoas perderam a capacidade de ter um certo
nível de pensamento crítico e, pior ainda, parecem ter perdido a capacidade
para debater assuntos com alguma urbanidade. Basta uma opinião contrária à
de alguém para este último desfilar um rol de adjetivos pouco abonatórios dirigidos
a quem ousou discordar. Os exemplos são mais que muitos e poderão ter a ver com
a sensação de impunidade e protecção que é dada por estarem escondidos por um
ecrã.
Depois, no que
diz respeito às leis, há sempre um argumento de contraditório que teima em vir
à superfície: “Tanta coisa tão importante para legislar e perdem tempo com estas
coisas!”. Um bom exemplo disto é a onda indignação geral, com um certo teor de
islamofobia, é certo, que se gerou perante inúmeras iniciativas de ajuda a
refugiados, que fugiam à guerra na Síria. O argumento principal era que “em vez
de se ajudarem os sem-abrigo, estamos a trazer estas pessoas para viverem às
nossas custas!”. Então muito preocupadas com os sem-abrigo, seria interessante
averiguar quantas destas pessoas se mexeram desde então para os ajudar ou até,
sendo picuinhas, quantas delas desviam o olhar quando passam por eles na rua
para evitar dar umas moeditas.
Também parece
generalizada a ideia de que a Assembleia da República dedicou dias inteiros das
suas sessões à aprovação desta lei o que não pode estar mais longe da verdade. Basta
ir consultar a documentação disponível no site da Assembleia da República para
perceber isso, em vez de nos ficarmos com os pacotes sintéticos de indignação instantânea
do Facebook.
Caros
concidadãos, se acham que há coisas mais importantes MEXAM-SE! Criem petições,
aborreçam os deputados que elegeram para a Assembleia da República. Não fiquem
sentadinhos à espera que as mudanças caiam do céu. A cidadania, não se
esqueçam, não se esgota nas mesas de voto. É, pelo contrário, um exercício que
deve praticado ao longo de um período de 4 anos. Mas adiante.
O que diz afinal
a lei que foi aprovada?
Voltando ao tema
de abertura, o que diz afinal a lei que foi aprovada na sequência de uma proposta
do PAN?
Não, também não é isto que vai acontecer:
e não, também não vai ser o apocalipse da invasão animal com a chegada dos 4 binómios
cinotécnicos do apocalipse como está a ser pintado.
Em termos gerais, deixa de
proibir taxativamente a entrada de animais de companhia em espaços de restauração,
excepção feita a cães-guia como até agora acontecia, conferindo aos
proprietários a prerrogativa da escolha de permitirem ou não essa entrada.
Ainda assim:
- Essa permissão
ou não será dada a conhecer mediante a afixação de um dístico na entrada dos
estabelecimentos (como acontecia com a permissão ou não de fumadores). Na
ausência do dístico assume-se que a entrada é permitida;
- Os
proprietários podem definir um limite de animais dentro do estabelecimento;
- Os animais terão
de estar presos com trela curta, não podendo circular livremente
- O proprietário
pode definir uma área específica para a permanência de animais em vez de
permitir a sua presença em todo o espaço
Percebido?
Espalhem a palavra!
Ah! Já agora,
senhores donos de animais, porque há regras de civismo que são de observância
obrigatória, não tentem aproveitar-se desta lei alegando que agora ninguém pode
proibir a entrada de animais. Também será conveniente que os cães estejam treinados para não terem comportamentos que incomodem as restantes pessoas e animais. As regras de civismo aplicam-se a todos embora em Portugal muitas
vezes tenha tristemente de ser imposto por lei.
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